sábado, 16 de maio de 2015

(IV) A coffee downtown...

Como um tormento o verão espreguiçava suas garras nesta época do ano. O grudento suor fazia reluzir os corpos dos homens e mulheres apressados no centro de negócios. Só ele parecia ter todo tempo do mundo. Bons planos não são rápidos, são eficientes.

Ele andou com calma até achar a cafeteria. O ponto de encontro fora escolhido com esmero e cuidado, bem movimentado e barulhento. O cheiro do café inundou suas narinas, trazendo uma felicidade espontânea. Quanto tempo desde a última ponta de felicidade? Pequenas coisas nos trazem a cabeça momentos memoráveis. Bons tempos.

Ele achou o garoto em questão. Garoto é uma certa ironia já que os dois provavelmente tinham a mesma idade. Bem, ele parecia mais velho. Acabado, eu diria. O garoto, Daniel, usava um computador moderno e digitava com presteza. Daniel se surpreendeu completamente com a aparência dele. Terno e gravata. Colete. Espera, não estava meio quente para o colete? De certa maneira parecia correto, dava um ar de magnânimo para ele.

Os dois se cumprimentaram de maneira informal e conversaram baixo. Daniel não tirava os olhos da tela enquanto falava e cada vez digitava mais rápido. Após alguns minutos, ele pareceu ter ouvido algo. Virou com cuidado, como quem apenas olhava as redondezas enquanto fala. Segurou a conversa por mais alguns instantes e saiu com pressa. Um envelope grosso ficou na mesa em frente a Daniel. Em segundos, o garoto saiu com o computador e o envelope. Parecia tudo correto.

Daniel virou no beco seguinte e enquanto ajeitava os óculos tomou um esbarrão. O pacote caiu de sua mão e quando se esticou para pegá-lo, tomou um belo chute na costela. Voou até a outra calçada e caiu pelo chão com alguns leves arranhões. Outros dois vinham de modo a pegar seu computador. Daniel não era do tipo que luta, mas o computador era bem importante. Antes que decidisse o que fazer, um disparo foi ouvido. Bang.

Daniel percebera que um deles estava apontando uma arma para sua cabeça. Espera. Aquilo era um tiro na cabeça do cara? Ploft. O cara caiu como um saco de batatas. O líquido rubro sujando os paralelepípedos do Centro. Gritaria nas ruas próximas. Olhou para o lado e um homem de terno segurava uma pistola. Ele.

Ele correu em direção a Daniel e o jogou para o lado. Dois tiros no chão. Ele lançou uma faca curva estranha no peito de um dos caras, mas ela parou antes de perfurá-lo. Coletes. Profissionais, interessante. Sem um exato plano de ataque numa rua tão estreita, ele se jogou contra um dos dois como um defensor do futebol americano. Arma interceptada. Bang bang. Tiros ao ar. Soco. Chute. Faca na perna. Gritos. Tiros. Ouch. Seu colete não salvou essa. Tiro perto demais. Raspão talvez? Doía a beça. Cabeça nas mãos dele. Uh. Ele bateu com ela no meio-fio. Ai. 3 vezes? Para quê isso?

Nesse meio tempo, Daniel corria do outro que o perseguia. Quem diabos manda mais de 2 pessoas parar pegar um computador de um hacker? Ele virou a esquina e deu de cara com uma moça. Bonita moça. Ela o segurou e o colocou atrás dela. Ela por acaso era a prova de balas? Não parecia um bom plano. A moça avançou para a esquina numa velocidade assustadora. Seu chapéu foi ao ar. As mulheres podem correm tanto de salto?

Num movimento rápido, ela atacou o perseguidor. Com o susto, ele foi ao chão. Da perna, ela puxou duas pistolas e deu dois tiros simultâneos no rosto do homem. Acho que esse parou com seus tempos de caçador. Ele chegou logo depois.

“Que demora hein, meu deus! Achei que eu ia ficar com a diversão toda para mim”, ele disse ofegando. Uma de suas mãos segurava abaixo da costela esquerda.

“Eu tive que dar uma volta para fechar a saída deles, por que você nunca pensa nos aspectos estratégicos?”, ela disse com uma cara de preocupada.

“Eu tenho você na operação por isso”, ele terminou antes de cair sentado no meio-fio.

Daniel se aproximou meio sem saber o que dizer. “Oi galera, obrigado por matar três pessoas, eu realmente gosto deste computador”. Parece uma fala estranha. O garoto ajudou ele a levantar e juntos seguiram o mais rápido possível até o fim da rua. Rápido é relativo. Um homem ferido não consegue exatamente correr. A polícia apareceu logo após eles saírem. A falta de eficiência deles foi útil hoje, mas só hoje.


Ela parou um táxi e colocou Daniel dentro. Deu as instruções finais e despachou o táxi com uma nota de 100. Dinheiro. Sempre compra discrição. A multidão ocultou o ferimento e ele andou o mais ereto possível. Uma conversa fingida sobre o tempo. Ela entrou em seu próprio carro e os dois saíram com calma. Tudo estava indo como esperado. Acabaria em breve.

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