quarta-feira, 13 de maio de 2015

(III) What a great day...

Suor. Sangue. As facadas não o acertaram exatamente, mas a proximidade dos pontos vitais já foi suficiente para derramar uma quantidade interessante de sangue. Ai. Ele arrebentou os pontos de dois ferimentos anteriores e um roxo feio se exibia em sua costela esquerda. Que dia ótimo.

A casa de Marcus era um ótimo esconderijo. O importante era saber porquê ele precisava se esconder. Transformadores não colocam fogo em prédios. O relatório dos bombeiros demoraria a sair, mas ele provavelmente já havia sido comprado. Saco. Ele só queria cumprir o prazo e morrer naquele dia.

Ele demorou um bom tempo consertando os pontos e fazendo curativos. Ouch. Doía a beça. Mesmo após 517 cortes, ele ainda não havia se acostumado. Para piorar, Marcus havia sumido, fato este preocupante dada a situação. Ótimo, que dia.

Em tempos sombrios, não se pode descansar por um segundo ou a escuridão o engole, a melhor coisa era achar ela antes que os impuros a dessem o mesmo destino de Marcus. A moça era importante. Marcus era um bom amigo, mas amigos são dispensáveis. Relações humanas se baseiam em interesse e nesse momento a moça era mais importante.

Saiu da casa de Marcus com o sol a pino. Calor infernal. Quem diabos gosta de calor? Maldito clima. Que ótimo dia. Cada olhar na rua o gerava desconfiança e atenção. Agora todos eram suspeitos. Ele nunca imaginou que eles fossem agir tão cedo, achou que fosse demorar um tempo até descobrirem. Todo seu treinamento estava a prova. Tudo poderia ser perdido por um deslize. Um único erro. Bang. Morto.

Ele realmente deveria morrer, mas não daquela maneira. Sim, sei que parece prepotência do jovem rapaz, todo mundo morre. Igual. Sozinhos. Ele infelizmente deveria morrer de uma maneira específica, coisa no qual os impuros pareciam que iam se esforçar para impedir. Pessoas. Por que tão chatas?

O táxi deixou-o em seu destino final. A ladeira tranquila com seus paralelepípedos antigos o desafiava e no fim da rua, uma jovem o esperava. A casa de um amarelo desmarelado e de um azul desazulado lhe saudava com tristeza. Ao passar pela porta, a moça o beijou com vigor. O jogou na parede, o que dada as recentes circunstâncias gerou dor e prazer. Numa luta sensual, os dois se entrelaçaram pela casa e terminaram no tapete da sala, ofegantes. Ele sangrava pelos pontos recentes e antigos. Arranhões novos o assombravam na cintura e costas. Eu bem disse que era um ótimo dia.

Depois de uns instantes, ela se levantou e reclamou algo sobre o aparador. Com preguiça de abrir os olhos somente imaginou que deveria estar quebrado novamente. Alguém já pensou em fazer móveis à prova de sexo? As propagandas, com certeza, seriam bem divertidas. Ele rumou ao banho e após olhar os curativos, colocou uma roupa limpa. A moça fazia café na cozinha e cantava algo doce e aleatório. O mundo parecia até seguro. Estranho. Seguro demais.


A segurança e a sensação dela são conceitos bem diferentes. Uma coisa é uma cidade segura. Outra coisa é uma cidade que te dá a sensação de segurança. Nesse momento, a cidade não era nenhuma das duas. O terror e medo foram instaurados de tal maneira, que parecia não haver solução. Ele sabia que aquilo tinha que acabar. Só tinha uma maneira e só ele poderia fazer.

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