terça-feira, 12 de maio de 2015

(II) Deadline...

Prazos. Quem teve a brilhante ideia de inventá-los? Ele nunca gostou de prazos. Por que tanta pressa? A vida já é rápida demais, por que tornar tudo uma corrida? Humpf, deve fazer parte do clima da cidade e se não faz, deveríamos ter uma conversa com um bom número de pessoas.

Ele acordou pela manhã e durante o café olhou a janela. Engraçado como sempre olhamos através dela, mas nunca a janela em si. Ela fez algo de errado? Roubou doce de alguma criancinha? Por que diabos ignorar ela então? Era uma janela bem feia. Metal barato, sujeira e poeira. Nada de especial, o que a tornava tão intrigante então?

Acho que talvez fosse o fato de ter um braço pela metade pendurado nela. Aquilo era um pedaço do osso? Urgh. Nojento. “Como um braço veio parar na minha janela?”, ele pensou. Considero uma pergunta válida. Ele não tinha tempo. Ele tinha prazos. Resolveu deixar o braço para lá, assim como a janela, não fazia mal nenhum.

Checando o celular e uma cara feia. No caso, a sua. Não falo de você que está lendo, falo dele que precisava entregar um trabalho em 3 horas e teve a genialidade de deixar para terminar pela manhã. Prazos. Ele odiava prazos. Sentou-se em frente ao computador e após 134 suspiros resolveu começar. Google. Wikipedia. Editor de Texto. Click. Click. “Que som irritante”, ponderou ele sobre o mouse. Mouse. Rato. Odeio ratos. Espera.

Bum. Pareceu genérico, mas todo mundo sabe que um transformador explodindo tem um barulho bem característico, até porque as coisas desligam. Ele andou até a varanda. Sentiu uma leve brisa. Um cheiro de queimado pelo ar. Fumaça. Fogo. Que interessante, a fiação pegava fogo. O prédio também. Uma leve labareda subia pela coluna do velho edifício. Ah, assim que é um incêndio então.

Um estalar da chama o acordou do transe. Rápido. Quarto. Mochila. Roupas. Computador. Celular. Carregadores. Livros. Espera, quais livros? Todos? Impossível. Sem discriminação. Queimem todos. Tirar camisa. Colocar o coldre. Pegar as facas. Arma. Munição. Vestir-se. Correr. Precisa trancar a casa? Hm, o vizinho gordo sempre ficou de olho na minha Tv. Trancado. Ai, o gordo bateu em mim. Todo mundo correndo. Gritos. Choro. Desespero. Esse vai ser um bom dia.


Descer aquelas escadas não foi fácil. A morte tem um efeito interessante nas pessoas. Sem proferir uma palavra, as pessoas diziam toda a angústia e agonia em seus corações. Dia bonito. Do lado de fora, um confuso mar de pequenas e grandes pessoas sujas de fuligem. Os cães latiam muito. Nenhum gato a vista. Gatos são legais. Ele foi embora antes dos bombeiros. Prazos. Ele tinha um prazo naquele dia. Ele tinha que morrer naquele dia.

Um comentário: